segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

bodas

perdoe-me se não te contei
tive que sair
não pude me despedir

aquela frase mal acabada
era só pra dizer
que cada segundo da minha vida fazia sentido
porque um dia conheci você

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

o amor é outra liberdade

a liberdade de ficar.
de permanecer sem ser o mesmo.
de ir e voltar, ir e voltar e ainda ter caminhos a percorrer.

a liberdade de voar sozinho
sem estar só.
de andar junto, lado a lado.

a liberdade de sentir prazer.
de se emocionar.
de sorrir sem se sentir culpado.

a liberdade de ser inteiro e se dividir.
de dar vida a outra vida.
de abraçar o mundo sem se perder.

o amor é a liberdade de não sentir medo.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

nem isto nem aquilo

Falavam noutro dia de uma saudade do que poderia ter sido. Aquela viagem que não aconteceu; a voz que não saiu; a espera que se prolongou até a exaustão; o encontro adiado; o beijo interrompido; a loucura na qual não embarcamos; o medo que paralizou; a pessoa que se foi cedo demais ou aquela que nem chegamos a conhecer; a escolha pelo caminho da direita.

Talvez todos, absolutamente todos, já tenham experimentado a sensação do "e se eu tivesse escolhido o outro lado, como seria?", que para os mais frustrados converte-se em "como eu queria voltar no tempo para ir pelo outro caminho". Isso porque nós sempre queremos todas as experiências. Como seria bom conhecer o caminho da direita, da esquerda e todos os outros. As escolhas muitas vezes nos traem, pois elas supõem uma renúncia, sempre. Mas há outra verdade que me (nos?) salva: não estamos full time no controle, há também o que nos escapa, nos ultrapassa e excede.

Se tem saudade da pessoa que poderia ter sido, se a saudade daquele amor não declarado o consome, se seus olhos brilham toda vez que se imagina entrando naquele avião, se deseja de novo aquela oportunidade mal aproveitada, se tem saudade seja lá do que for (e do que não foi), agradeça, porque é essa falta, esse ainda querer mais, esse desconforto que nos mantém vivos.

Apesar do tom frívolo-auto-ajuda-a-vida-é-bela, não ignoro que há saudades irremediáveis. Eu mesma tenho as minhas.

Agora, lendo tudo o que acabei de escrever, não sei mais se trata-se de um texto sobre escolhas ou saudade. Comecei a escrever porque essa tal conversa que presenciei sobre "a saudade do que não foi" me fez pensar que somos responsáveis por ela quando optamos "pelo que foi" e não "pelo que não foi" - sob esse aspecto temos um texto sobre escolhas. Mas me lembrei da saudade que eu tenho por não ter visto meu pai nos últimos 14 aniversários. Saudade do que não foi e não se trata de uma escolha.

sábado, 18 de outubro de 2008


"sou um móblile solto num furacão

qualquer calmaria me dá solidão"

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

15 de outubro e um poeminha

Prefessorando eu vou
andando na corda bamba do ensino
com medo de cair
mas com a certeza de que é preciso continuar

tentando não ferir
não desanimar
não castrar nem desiludir

São tantos caminhos possíveis
que eu peço ser capaz de sempre lhes apresentar
porque eu acredito que somente a educação
pode verdadeiramente nos libertar

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O caderno azul

"Procura-se aflitivamente um pobre caderninho azul que tem escrita na capa a palavra endereços e dentro está todo sujo, rabiscado e velho"

Aquele anúncio era sua única esperança. Desejou que houvesse resposta, mas nada. O telefone não tocava e quando o fazia, de pirraça, a voz do outro lado nada tinha a ver com sua aflição. O mundo andava lhe dando as costas e, definitivamente, não estava a fim de olhar pelo lado positivo nem de repetir o mantra "vai ficar tudo bem". À propósito, achava-se no direito de não acreditar mais nisso.
Desde que chegara de viagem, seu sonho encantado de volta ao lar transformara-se num pesadelo. Não encontrara sua família, não sabia o que havia acontecido - afinal estava fora fazia 15 anos - e sua salvação , o caderninho sujo e antigo havia se perdido, talvez no aeroporto, talvez quando descera do táxi.
Esteve no antigo endereço, mas não havia nem sinal de sua mãe. A casa pareceria a mesma, não fossem as pichações. Ficou parada frente a ela e deu uma saudade de doer o estômago. Lembrou-se de seu pai, do fusca 69 sendo lavado na calçada, aos domingos, do som alto que tocava BB King, "blues da melhor qualidade, música de preto," dizia ele cheio de orgulho de ser quem era; da mãe no portão chamando pro almoço, das brincadeiras na rua. Chegou mesmo a ver o seu rosto atrás do poste, tentando, em vão, se esconder, pois sabia desde aquela época que o bom do pique-esconde era ser achado, em meio a gargalhadas. Sentiu falta de si, uma ausência infinita.
Bem, sabia que não iria adiantar ficar ali parada, apesar da vontade de trazer o passado de volta "que vontade!". Voltou para o táxi, calada, e acenou com a cabeça solicitando retorno. Naquele caderno, pensou, está a possibilidade de encontrar-me. Desde que não conseguiu mais falar com sua mãe ao telefone não agüentava a angústia, no entanto, só conseguira voltar agora, três anos após a perda de contato. Sabia que sua tia deveria saber onde ela estava, porém não recordava nem o bairro, quanto mais o nome da rua.

***

Romualdo era taxista fazia 23 anos. Não via a hora de se aposentar. Já ouvira histórias demais naquele volante. Estava na hora de descansar os ouvidos, os olhos, o corpo. Mas tantos anos de profissão lhe deram uma habilidade especial: a observação. Era necessário prestar muita atenção a tudo, qualquer descuido poderia ser fatal. Por isso, quando aquela moça muito bonita e educada, porém reservada, saiu de seu carro, percebeu que algo havia caído, mas até que saísse do carro, pegasse e chamasse por ela, já era tarde demais, perdeu-a de vista.
Um dia, intrigado com aquele troço velho, folheando-o à procura sabe-se lá de quê, encontrou um endereço que lhe chamou a atenção. Num pulo, levantou-se, pôs a primeira roupa que encontrou e saiu em disparada. Correu como se apostasse corrida com o meio-fio. Parou, ofegante, diante do portão de ferro. O coração aos pulos:
- Maria! Das Dores, corre!
Demorou um pouco até que fosse atendido:
- Que foi homem? Quem morreu? Quer me matar do coração?
- Reconhece essa letra?
- Quê?
- Reconhece essa letra? Diga! Olhe com cuidado!
- Não sei... Mas por quê? Deixa eu pegar meus óculos...
- Acho que é da sua filha... Aquela que andava sumida nos "States". Uma mulher, há uns 10 dias, fez uma viagem comigo e deixou cair. Tava dando uma olhada e vi seu endereço com o nome escrito "tia". Como desde que sua irmã ficou doente você veio morar com ela, achei que pudesse ser...
- É ela! É ela! Ela voltou! Ela voltou! Reconheceria essa letra até debaixo d'água! Vamos, onde você a deixou? Preciso encontrá-la!
- Isso é um problema...
Mal Romualdo começou a explicar que a deixara no Centro da cidade e que de lá, provavelmente, ela partira para outro lugar, toda aquela alegria já se esvaíra. Romualdo voltou para sua casa, cabisbaixo, achando que naquela altura do campeonato, uma emoção tão forte não seria bom e que era melhor deixar como estava, afinal, Das Dores já tinha se conformado com a distância da filha. Sempre falava de sua pequena com muito orgulho. Se quer sabia direito o ofício dela no estrangeiro, mas era bonito falar "ah, minha filha mora nos Estados Unidos..." por mais que doesse e, no fundo, soubesse que não era bem assim.

***

A busca sem resultados cansava a jovem mulher cada vez mais e pensava que talvez já fosse hora de voltar. Já se passara um mês, um mês de anúncio no jornal e nada. Visitas a hospitais, asilos, procura em listas telefônicas, visitas a Delegacias. Estava provado: achar uma pessoa no Rio de Janeiro era uma tarefa bem difícil. A menina só não contava com uma coisa: também era procurada.
Sua mãe olhava os rabiscos irregulares do papel amarelado do caderninho azul como se fosse a cartografia de suas vidas tortas. Tanta coisa que não saiu do jeito que se esperava. " Mas que letra redondinha!", exclamava em voz baixa, para se ouvir somente. Olhou, re-olhou, procurava alguma pista, esperava um milagre. Pensou em ir a um Programa de televisão pedir ajuda, mas desistiu. Também estava cansada. Foi num desses relances que se lembrou da velha casa, do abandono atual e da alegria que um dia foi aquele lar. Era isso. No dia seguinte, iria lá pra ver se os vizinhos sabiam de algo.

***

"Pela última vez vou olhar meu passado e prometo não voltar nunca mais!". De mala a punho, peito apertado, via novamente o sorriso do pai, ouvia a música alta, e sentiu forte um cheiro que conhecia, um cheiro de... de... de... alfazema! Era tudo tão milagrosamente vivo, que chegou a se sentir tocada, um toque que jamais esqueceria, aquele que nos faz acreditar que não estamos sós. Preferiu não se mexer, nem piscar. Só sentir.
Em frente à casa, mãos encontradas, olhando o passado, imóveis, ficaram as duas, mãe e filha. Em silêncio, que é pra não quebrar o encanto, pensaram em uníssono.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Sinta

Ele, sem saber que era impossível, pediu uma resposta.
Mas como responder em palavras, o que com palavras não se pode dizer?

Tentei, em vão: "olhe-me e verás!"

Mas ele não viu
que cada parte do meu corpo agradecia, em êxtase, o toque recebido;
que meus olhos o olhavam como quem vê a manhã que se abre;
que minha boca conhecia o gosto do prazer porque conhecia o gosto do seu beijo;
que ao seu lado minha alma voou e descobriu a liberdade;
que, curiosa, minha mente queria sempre mais, um pouco mais
(ele disse que o universo e a sabedoria eram infinitos e eu acreditei);
que sendo dele, era eu, ali, de mim mesma - pois não há diferença.
Mas ele não viu.

E precisei, num exagero ultra-româtico,
gritar: EU TE AMO!

(a eterna vulgaridade das palavras)

um pássaro cantou ao fundo.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

sentimental

sentimenatal demais
a felicidade em gotas de lágrimas
nelas também vai a tristeza
sentimental demais

o sonho
a ilusão
a esperança

a razão não tem vez
é só por isso que estou aqui.

sábado, 13 de setembro de 2008

"Que estranha potência a vossa"

Tenho uma história que não me sai da cabeça. Peço e chego a implorar que ela se apresente, mas não, ela diz: "deixe-me em paz, ainda não estou pronta, é preciso mais tempo." Não quero esperar, não posso esperar. É uma peso que não suporto, esse de viver carregando histórias em mim.
Se - e quando - a história quiser, começo a escrever.
A estranha potência das palavras.