terça-feira, 27 de abril de 2010

Um conto que não aconteceu

- Porque, se tenho me justificado pelo meu choro, é porque não quero que ele pareça o que realmente é.

Era hora do almoço quando o encontrou. Laura queria apenas ser carregada por aquela conversa, foi o que pensara ao vê-lo - essa, uma metáfora roubada. Era disso que se tratava aquele encontro. Um encontro tão generoso que entendesse o seu silêncio. Porque ela nada poderia falar naquele dia.

João já estava na porta do bar. Uma das mãos no bolso e a outra segurando distraidamente o cigarro. Seu rosto estava claro apesar da barba por fazer e foi um alívio a visão dele ali.

Era confuso o que sentia. Ele estava certo: devia, o mais rápido possível ,desvencilhar-se daquela dor e daquela alegria que nunca verdadeiramente lhe pertenceram.

A aflição dela vinha do não saber. Ela queria apreender o mundo com seus olhos, mãos... com o corpo todo. Queria que sua existência fosse o testemunho de tudo aquilo que há. Mas o mundo lhe escapava.

- Laura, ...
...
...
...

Distraía-se com bobagens: música no rádio, pessoas passando, o vento que balançava timidamente as árvores, o sol que dava uma cor diferente aos olhos dele. Lá fora, a vida.

Palavras em ciranda na sua cabeça, alheias ou suas, tomavam-lhe tempo demais.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Rimas e risos

Queria hoje escrever uma poesia

que não fosse nem sobre escrever

nem sobre as dores que ainda vou ter


Queria escrever uma poesia sem agonia

gostaria que ela sorrisse

que não fosse triste


Queria escrever uma poesia leve

com ar de fim de tarde na praia

aguardando que o sol caia


Lá fora poderia haver neve

que esse brilho aqui, dentro de mim

faria, docemente, brotar assim


esse poeminha cheio de alegria para mim.

domingo, 18 de abril de 2010

domingo, 11 de abril de 2010

eu confesso 3

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,

ninguém a rouba mais de mim.


Carlos Drummond de Andrade.