quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A espera

Aguardo-te chegar sentada nesse banco alto do bar do restaurante onde sempre marcamos. A moça de óculos escuros, na mesa à frente, não olhou nem sequer um segundo para o homem que a corteja delicadamente. Se eu tivesse uma filha ela se chamaria Eleonora. Eleonora? É por isso que não terei filha. Serei mãe de meninos, eu sei.

Minha roupa simples parece inadequada à ocasião, mas gosto dela: sapatilhas vermelhas, calças jeans, minha camisa preferida, um anel, grande, de ouro, brincos de pérola. Ajeito-me, alisando a roupa sistematicamente, como se a tornasse digna com o gesto repetido. Aceito mais uma dose e bebo sem pressa. Ele não se atrasa. Há tempo. O tempo é exato.

Tudo está no seu devido lugar, no lugar que cada coisa escolheu, ou onde lhe puseram. Cada qual que providencie a parte que lhe cabe. Aos outros, cabe a generosidade de ser generoso, se preciso for. E se eu tiver uma filha? Nome é bobagem. Nossa, dessa vez ele se atrasou. Acho que vou beber uma tequila. A moça tirou os óculos, enxugou as lágrimas, deixou-se abraçar. Não adianta resistir, manter-se no sofrimento. Perdoar é libertador, acho que foi o que o homem disse. Uma dose de tequila por favor!

Meus olhos sorriem. Uma alegria modesta e constante me mantém. Uma alegria aguda explode! Que bom que chegou! Não quero perder o tom, nem o horário, nem o desejo, nem o bonde, nem a medida do nosso amor.