quarta-feira, 26 de outubro de 2011

E, de repente, quando percebo, eu sou toda texto.

sábado, 15 de outubro de 2011

Desejo que, no dia dos professores, meus alunos estejam felizes.





domingo, 11 de setembro de 2011

Jamais seule

Se um dia me vir sozinha
Não se engane:
carrego em mim
um mundo sem fim.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Porque hoje foi um dia difícil

Minha resistência é permanecer. Não é lutar, nem brigar, nem gritar, nem falar palavrão com ódio no olhar. É permanecer. E sorrir.

Minha resistência é ouvir música e levantar para dançar. Minha resistência é admirar o improvável, o louco, o delirante.

Minha resistência é aproveitar minha casa, dormir à tarde, beijar meu marido, andar no sol, ligar pros meus amigos. Ler.

Minha resistência é não esquecer o motivo. E manter o desejo. Alimentar a fome. Aguentar a espera.

É ter pesadelo quase toda noite, mas ter certeza do sonho.

Detestar o clichê, mas recorrer à repetição.

Arriscar me expor, mas investir na partilha.

Minha resistência é acreditar em você.

terça-feira, 26 de julho de 2011

A melhor experiência da vida é viver. E ter amigos para compatilhar nosso canteirinho de problemas e também cuidar das flores assimétricas que eles nos confiam. É ter irmãos no estranhamento do mundo. E é ter irmãos de verdade e amá-los inexplicavelmente e incondicionalmente. É ter uma família e poder construir outra. É amar reciprocamente um homem e ter felicidades diárias, das grandes e pequenas, com ele. É compreender e aceitar a generosidade alheia e investir na sua própria, simplesmente pelo prazer de se sentir útil (é um prazer!). Porque, honestamente, não sei se existe algo além disso que justifique boas ações ou uma vida ética e reta. Ética e retidão são compromissos do hoje. O melhor da vida é essa que eu conheço e é para essa vida que eu vivo. Com isso não elimino a magia nem a crença nossa de cada dia. Nem ignoro aquilo que está além das minhas forças e do poder humano. Sei que há mais. Sinto. Mas não sei se há depois, então o que tenho para fazer, será feito agora, nessa vida, enquanto estiver viva.


segunda-feira, 27 de junho de 2011

Por que publicar?

Fingir as palavras, experimentar emoções inventadas, viver situações imaginadas. Mas fingir, inventar e imaginar ainda não é tudo, porque, em se estando só, as belezas criadas não frutificam outras belezas. O escritor, então, faz de seu labor um monumento de partilha: ele doa ao mundo, de boa vontade, aquilo que mais lhe pertence. É a tua leitura que faz disto um texto.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Palavras dançantes

O que o inspirou? Ao fazer essa pergunta para os outros, pouco me dei conta de que a resposta não é tão simples. Sabe-se lá o que me inspira? E é preciso saber isso para continuar vivendo? Por acaso, ao acordar hoje às 4:30h da manhã, antes mesmo de qualquer sinal do mais inspirador dos astros anunciá-lo no horizonte, eu pensei no que me inspirava?

Na verdade, não. Nem poderia pensar, porque, no meu caso, inspiração não diz respeito à razão nem à lógica; inspiração é aquilo que move os músculos contra a própria vontade ou força; aquele sopro refrescante que faz com que acreditemos; aquela mão invisível que nos afaga a fronte e faz com que sigamos em frente.

A primeira das artes que me inspirou foi a dança. Eu era uma criança e havia uma academia de ballet próxima a minha casa. Um dia, minha mãe, que era amiga da dona da academia, foi até lá comigo. Os movimentos das meninas paraceram tão fáceis e elas eram tão lindas e leves. Eu quis muito estar lá. Não fui imediatamente, mas desde que vesti o colant, as sapatilhas e meias a primeira vez, sabia que jamais seria a mesma. Eu estava inspirada a ser qualquer coisa que parecesse fada ou borboleta, disposta a sacrificar horas e horas até alcançar o movimento perfeito.

Contrariando minha visão inicial, não havia nada de fácil em dançar. A beleza residia justamente em simular facilidade, mas, na verdade, meu corpo sabia a extensão de cada movimento porque doía cada centímetro. Entretanto, uma música começava a tocar baixinha, a professora a guiar-nos e lá estava eu. Feliz. Nesses momentos, cada parte de mim se conectava e eu me sentia inteira, forte, capaz, possível, real, exatamente como o mundo era tudo isso junto comigo e vibrávamos eu e o mundo e todo mundo no mesmo compasso de uma música qualquer.

Era por isso que eu vivia. Embora não pensasse, embora não racionalizasse, cada dia fazia sentido porque a dança me inspirara. Com a dança aprendi que não há escolhas se não há disciplina; aprendi que técnica e perfeição são coisas diferentes, pois técnica sem emoção destrói qualquer dança - um bailarino que não se deixa inundar e não se permite o descontrole, não é bailarino. Aprendi a respeitar o espaço do outro: o palco é grande e cabem todos. Aprendi que em uma hora estamos lá na frente, mas, para a coreografia ficar harmônica, é preciso ficar lá atrás em algum momento. Aprendi que os solos não são mais importantes que o conjunto, só estimulam a vaidade. Aprendi docemente a agradecer: aos parceiros, à professora, à plateia – o espetáculo só se realiza com o outro. Aprendi severamente que é preciso se aquecer, ensaiar, se preparar.

Em um dia, lembro-me como se fosse hoje, após ensaios pesados na parte da manhã, à noite, cheguei ao ensaio e quis dançar fria, sem aquecimento. Nunca mais subi em um palco para dançar. Chorei por muitos dias. A perna imobilizada não me deixava esquecer a minha negligência. Depois descobri que sofria de uma problema de má formação óssea e que, mais cedo ou mais tarde, aquele acidente aconteceria. Não foi culpa minha.

Com sorte há o tempo, pois, deixando-o passar, compreendi que jamais seria a dançarina que gostaria. Além disso, a dança já havia me tocado e me modificado. Continuaria dançando em qualquer lugar, de qualquer forma, em muitos palcos. E eu danço mesmo... Se repararem em mim, danço na rua, no trabalho, em casa nem se fala... Quando vejo, lá está meu pé em ponta. Fazer as cindo posições do clássico é um passatempo. Na minha imaginação, vivo num grande musical.

Depois que cresci mais um pouco, aconteceu uma milagre: aprendi a dançar com palavras. Elas são minhas bailarinas; o papel ou a tela são seus palcos; a música? Só alguns conseguem ouvi-la. Você consegue? Está ouvindo? Talvez perceba o ritmo colocando a mão no peito. Todas as canções, de todas as minhas danças, têm o mesmo ritmo. Há passos rápidos, lentos, engraçados, sérios, comprometidos, leves. Difíceis. E eu continuo dançando. Eu e minhas palavras.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Na maioria dos dias, escrevo textos mentais que não chegam a sobreviver até explorar a tela ou o papel. A despeito da sua qualidade, já que não é esse o critério que as encaminha ao conhecimento público, minhas tecituras são terapêuticas: sou uma vidente de mim mesma. Ao escrever, me decifro e sou tão clara comigo que, às vezes, suponho que seja clara apenas para mim. Não faço questão de preencher lacunas, não faço questão de ser interessante, não faço questão de nada. Reivindico tão somente o direito de me ver, de me narrar, de me poetizar. São ternuras, delicadezas o que recebo em troca.

domingo, 17 de abril de 2011

A pergunta mais difícil dos últimos tempos começa a ter um esboço de resposta. Ainda uma imagem um tanto difusa, que se forma sem pressa de ser alguma coisa. A minha vida inteira tive pressa de ser, sem dar espaço ao tempo, sem dar ar aos pulmões e desejos às minhas vontades.

Tudo em mim nasceu prematuro.

Tenho me sentido meio Alice no país das maravilhas, ou uma personagem dos filmes de Lynch ou a "menina de lá" de Rosa. Num universo onírico onde as respostas nem sempre têm lógica e o irreal faz sentido. O sentido não é algo em si mesmo, não existe a priori: cada dia mais fica claro, vira o meu caminho, passo a passo, sem pressa.

Venho construindo sentido. Indo numa nova direção, mas sem mudanças bruscas. As verdadeiras transformações são quase imperceptíveis, me disse certa vez um querido amigo. Concordo.

No quadro difuso, que vejo no acostamento da estrada que percorro devagar, leem-se:

A vida é implacável. Acontece todos os dias.

Não quero a burocracia. Quero a poesia.

Existe o medo. Mas existe o amor.

Música é bom. Silêncio é bom. Minha alma repousa na sua voz.

E eu continuo, sem pressa.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O caminho e o mar

Se eu fosse Clarice, diria que existe uma beleza profunda em sentir-se pequena e sofrida e sem rumo. E talvez eu falasse da anestesia fortíssima, cotidiana porém, que faz as pessoas acharem que são felizes e do quanto eu prefiro esse aperto agudo na boca do estômago que me mantém viva.

Mas eu não sou ela. Também pouco sei mentir. E para a pergunta mais difícil dos últimos tempos não tenho sequer esboço de resposta. Hoje não me importei de pegar um caminho mais longo só para passar pela praia e ver, assim com olhos sem desejos, aquilo que está além de mim. Porque, às vezes, eu esqueço que eu não sou o mundo. E que eu posso não responder agora que o mundo não para de girar. E se tudo for uma fracasso, é só isso.

De repente, o mar que é grande mas não pensa sobre isso me lembra que sentir-se pequena em seus braços é de uma beleza absoluta. E que esse aperto agudo na boca do estômago é você, que me deixa em mãos trêmulas desde a sua voz apenas, e me mantém viva sim. E sei que foi bom o percurso mais longo, mesmo pequena e sozinha diante do mar, mesmo tendo medo, tanto medo de sentir medo do fracasso e de ficar parada e de não saber o que responder.


domingo, 27 de março de 2011

Atenção: se você não estiver preparado para o mau texto, é melhor não ler.

A notícia: meu pai morreu. Não o meu pai, mas o pai de um amigo. O que eu ouvi: pais morrem, meu pai morreu, seu pai morreu, nossos pais morreram. Meu pai morreu faz muito tempo. Meu avô morreu dois anos depois. Meu outro avô já tinha morrido. Meu tio morreu. As pessoas da minha vida morrem. Mas aquela notícia foi um golpe. Estou cansada das mortes. Faz menos de um mês que o pai do meu amigo morreu. Então chorei alguns minutos, quase uma hora. Chorei de soluçar, porque não era o meu pai que já tinha morrido e que não me viu crescer e do qual não lembro mais a voz e com o qual não sonho mais faz uns dez anos e também não era o meu avô a quem coloquei imediatamente no lugar de macho alfa da minha vida e para quem dei a camisa que a gente fez na escola, onde estava escrito: pai herói, mas que morreu num dia em que senti alívio pois não sofreria mais do maldito câncer que o castigou por sete anos e que matou meu pai em três ligeiros meses.

Chorei porque era o pai perfeito do meu amigo. Provavelmente ele não era perfeito, mas ele conhecia meu amigo de tantas formas e estava sempre tão ali e era velho e ranzinza, mas ensinou de um tudo; e leu e discutiu junto em tardes animadas na varanda da casa com os amigos que tampouco imaginavam quanto amor os unia. Chorei tão forte e solucei e pedi ajuda para ficar de pé porque não é justa essa dor. Chorei porque deve ser uma alegria tão cotidiana ligar para o pai e falar qualquer coisa e pedir dinheiro ou dizer que se ferrou que ninguém se dá conta e esse não dar-se conta é maravilhoso porque provavelmente nunca foi necessário pensar sobre isso. Não pensar sobre isso é uma sorte.

Chorei porque conheço essa ausência, mas tinha esquecido dela. No velório, meu amigo disse, mas você só o viu uma ou duas vezes, né? Mas o pai que ele pintou para mim, apesar de tanta adoração, às vezes, ter me irritado - mais por inveja do que por outro motivo - era um pai tão real e possível e presente e artista e inspirador que o tinha em meu coração. Era assim: eu lembrava o que era ter pai. Chorei, verdadeiramente, porque fui obrigada a lembrar o que era não ter.

E quando falava disso: ah, meu pai morreu, era serenamente, como ausência assimilada. Quase sempre protegida por esse "esquecimento" de que falei. Mas ficou difícil esses dias. Lamento ter ficado ausente na sua dor, amigo. Mas é que também estive de luto.







domingo, 30 de janeiro de 2011

Se essa sensação de hoje pudesse ser uma foto, nada na imagem seria reconhecido, mas as cores seriam hamoniosas, claras. No centro dessa claridade de cores suaves e harmoniosas eu estaria diante de um espelho e o meu olhar me olharia sem se desviar. Haveria também uma música, na foto, porque meu corpo estaria inclinado para o lado e minhas mãos imitando as mãos de uma bailarina e minha boca contraída para cantar aquela canção, que é como eu gosto de estar. Antes do espelho, ao meu lado, é a sua música que eu canto; a música que sai do seu violão. E, mesmo a foto sendo um registro da realidade, eu não sei, mas haveria tantas pessoas, vivas e mortas, na mistura das cores, que ninguém saberia de quem se tratava, mas quem olhasse ficaria alegre.

Se essa sensação de hoje fosse uma palavra, seria gratidão.

Se fosse um livro, seria o primeiro.

Se fosse um lugar, seria minha casa.

Se fosse um filme, seria dos bonitos (que fazem chorar).

Se fosse um dia, não terminaria.