Meu filho,
Hoje é Domingo, 19/05, Outono. O dia amanheceu claro, mas sem sol. Seu pai e eu fomos tomar café-da-manhã na rua: pão na chapa com café com leite - uma das bebidas preferidas da sua mãe.
Agora eu estou aqui pensando na vida e me deu uma vontade imensa de falar com você. Quem sabe um dia você vai ler isso e se sentir muito amado? Não sei...
Seu pai está na sala tocando cavaquinho, instrumento ainda novo para ele, que já arranha bem o violão, o tantan e o reco. Meu filho, seu pai adora música! É sambista! É tão feliz! Seu pai, além disso, é muito ligado às coisas do alto; e um dia você terá muito respeito por isso também e vai oferecer um café preto ao Tempo.
Ele com sua música e sua mãe aqui com as palavras, tentando organizar o mundo dela e preparar o seu. O quanto eu vou poder fazer, não sei. Vamos aprender juntos, nós três.
Aliás, lembrei de dizer uma coisa, meu filho: a vida é projeto de longo prazo; fique tranquilo.
"(...) as palavras não são mais concebidas ilusoriamente como simples instrumentos, são lançadas como projeções, explosões, vibrações, maquinarias, sabores: a escritura faz do saber uma festa" (Roland Barthes. Aula.)
domingo, 19 de maio de 2013
quarta-feira, 1 de maio de 2013
Eu tenho prazos na vida. E todos eles se referem ao trabalho. Só o trabalho me dá prazos. E costumo descumpri-los todos. Talvez eu precise abandonar essa parte do meu trabalho porque, para mim, os prazos são bobos, pequenos, irrelevantes.
Há mais que os prazos: há os amigos que sofrem e precisam de beijos, que não curam, mas fortalecem. Há os amigos doentes para os quais cada minuto da minha vida doada é ouro. Há os amigos que precisam começar a escrever a monografia e para os quais a página em branco é um monstro assustador e contam comigo para saber por onde começar.
Há os livros. Tantos. Ainda me resta ler tantos. Há esse vazio a ser preenchido por palavras. E diante do deslumbramento causado por quem consegue dar forma e sentido ao inominável, a Deus, àquilo que existe simplesmente, como cumprir prazos?!
Há a música! Há os meus passos tortos no chão da sala como se bailarina fosse. Há o tempo que passa em meu ócio. Há o silêncio das minhas construções e devaneios. Há as minhas lembranças. Há o som do trem de Paris a Versailles e a paisagem pela janela e aquele sol claro a me lembrar que a vida é boa.
E há Francisco e há o Lucas. E sobre eles basta dizer que minha casa está cheia: cheia de um não sei quê capaz de preencher cada segundo de uma vida tão intensa que basta.
O único prazo inquestionável é a morte. Até lá, vou vivendo e enganando todos os outros.
Há mais que os prazos: há os amigos que sofrem e precisam de beijos, que não curam, mas fortalecem. Há os amigos doentes para os quais cada minuto da minha vida doada é ouro. Há os amigos que precisam começar a escrever a monografia e para os quais a página em branco é um monstro assustador e contam comigo para saber por onde começar.
Há os livros. Tantos. Ainda me resta ler tantos. Há esse vazio a ser preenchido por palavras. E diante do deslumbramento causado por quem consegue dar forma e sentido ao inominável, a Deus, àquilo que existe simplesmente, como cumprir prazos?!
Há a música! Há os meus passos tortos no chão da sala como se bailarina fosse. Há o tempo que passa em meu ócio. Há o silêncio das minhas construções e devaneios. Há as minhas lembranças. Há o som do trem de Paris a Versailles e a paisagem pela janela e aquele sol claro a me lembrar que a vida é boa.
E há Francisco e há o Lucas. E sobre eles basta dizer que minha casa está cheia: cheia de um não sei quê capaz de preencher cada segundo de uma vida tão intensa que basta.
O único prazo inquestionável é a morte. Até lá, vou vivendo e enganando todos os outros.
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