terça-feira, 17 de setembro de 2013

"Quero nascer, quero viver"

Sentada diante do computador para trabalhar, até agora só o que fiz foi ler um monte de coisas. Eu gosto de ler.
Também ouço Cartola: porque gosto e porque sei que meu filho também o ouve. Como tenho pensado muito no que vou ensinar a ele, acho que ensinar a ouvir Cartola é um bom começo. Ontem à noite, antes de dormir, fomos  - eu e Francisco - embalados por O mundo é um moinho na melhor voz que existe. Acordei ainda inspirada pelo gênio mangueirense.

São tantas as coisas que quero lhe ensinar, meu filho. Peço, primeiro, que seja pelo exemplo, tão mais eloquente que as palavras.

Quero que saiba ser simples na vida: que precise de pouco, que identifique o necessário, que reconheça o que importa e que aprecie delicadezas.

Quero que seja tolerante, respeitoso e mais: que realmente encontre no outro, na diferença, a beleza. Quero que ame as pessoas e seja reverente às suas características. Quero que seja colaborador em vez de competitivo. Que sua maior ambição seja viver plenamente, em harmonia com o mundo e com os outros.

Meu filho, que seus pais sejam exemplos de que "preço" e "valor" são coisas distintas. Que "shopping" não é passeio. Que cada um é aquilo que constrói subjetivamente e não aquilo que aparenta. Espero que perceba que compartilhar é mais importante que acumular e que a doação - de tempo, de amor, de disponibilidade - são verdadeiras caridades assim como a doação de bens, quando for necessário.

Quero ensinar-lhe a não se levar tão a sério, a rir de si mesmo, a ter dúvidas e questionar, a apreciar a falta, porque é a partir dela, da falta, que podemos nos formar.

Que seu pai e eu sejamos exemplos de sensibilidade às Coisas do Alto. Que demonstremos a importância da ciência, da leitura, dos estudos mas também o respeito por aquilo que está além disso.

No mais, apesar dos nossos desejos e ensinamentos, dependerá de você. E isso é o mais bonito...

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Estou esperando

Minha barriga está cheia
da melhor esperança

Grávida do Amor
aguardo minha criança 

Em par, ao seu lado,
vamos encontrar um presente
bem guardado

Pela vida, que ensina,
em nove meses, que a espera
não é uma esquina

É preciso paciência
Sapiência
Gostar da rotina

Gestar, preparar o mundo
Arrumar a casa e a alma
Respeitar as mudanças

Ter coragem
para começar novas andanças

Admitir o medo de não saber
Ter ânsia de correr
Mas ficar, permanecer

Fazer da travessia
um afeto que sacia
uma história que ilumina
qualquer estrada fria

Um rito, um ciclo, um parto
O nascimento
Momento de acolhimento
Vida em movimento

Seja bem-vindo, meu rebento.


domingo, 21 de julho de 2013

Ontem foi o chá de bebê do nosso filho. Foi uma festa de pura alegria e harmonia. Agradeci aos presentes por celebrarem conosco a vinda do Francisco. Agradeci enfaticamente à Vida.

À noite, despindo-me para colocar a roupa de dormir, com os pés inchados e os olhos abatidos pelas olheiras das noites acumuladamente mal dormidas, depois de um dia (uma semana) de intensa preparação para a festa, meu marido me olhou, beijou meu barrigão e disse que aquele fora o momento em que eu estivera mais linda desde que nos conhecemos.

Isso é amor.

domingo, 19 de maio de 2013

Meu filho,

Hoje é Domingo, 19/05, Outono. O dia amanheceu claro, mas sem sol. Seu pai e eu fomos tomar café-da-manhã na rua: pão na chapa com café com leite - uma das bebidas preferidas da sua mãe.

Agora eu estou aqui pensando na vida e me deu uma vontade imensa de falar com você. Quem sabe um dia você vai ler isso e se sentir muito amado? Não sei...

Seu pai está na sala tocando cavaquinho, instrumento ainda novo para ele, que já arranha bem o violão, o tantan e o reco. Meu filho, seu pai adora música! É sambista! É tão feliz! Seu pai, além disso, é muito ligado às coisas do alto; e um dia você terá muito respeito por isso também e vai oferecer um café preto ao Tempo.

Ele com sua música e sua mãe aqui com as palavras, tentando organizar o mundo dela e preparar o seu. O quanto eu vou poder fazer, não sei. Vamos aprender juntos, nós três.

Aliás, lembrei de dizer uma coisa, meu filho: a vida é projeto de longo prazo; fique tranquilo.


quarta-feira, 1 de maio de 2013

Eu tenho prazos na vida. E todos eles se referem ao trabalho. Só o trabalho me dá prazos. E costumo descumpri-los todos. Talvez eu precise abandonar essa parte do meu trabalho porque, para mim, os prazos são bobos, pequenos, irrelevantes.

Há mais que os prazos: há os amigos que sofrem e precisam de beijos, que não curam, mas fortalecem. Há os amigos doentes para os quais cada minuto da minha vida doada é ouro. Há os amigos que precisam começar a escrever a monografia e para os quais a página em branco é um monstro assustador e contam comigo para saber por onde começar.

Há os livros. Tantos. Ainda me resta ler tantos. Há esse vazio a ser preenchido por palavras. E diante do deslumbramento causado por quem consegue dar forma e sentido ao inominável, a Deus, àquilo que existe simplesmente, como cumprir prazos?!

Há a música! Há os meus passos tortos no chão da sala como se bailarina fosse. Há o tempo que passa em meu ócio. Há o silêncio das minhas construções e devaneios. Há as minhas lembranças. Há o som do trem de Paris a Versailles e a paisagem pela janela e aquele sol claro a me lembrar que a vida é boa.

E há Francisco e há o Lucas. E sobre eles basta dizer que minha casa está cheia: cheia de um não sei quê capaz de preencher cada segundo de uma vida tão intensa que basta.

O único prazo inquestionável é a morte. Até lá, vou vivendo e enganando todos os outros.