quarta-feira, 12 de maio de 2010

O sonho

Eu tenho muitos pesadelos. Desde a infância que os maus sonhos me acompanham, me assombram, fazem-me despertar no meio da noite com o coração aos pulos, a perna tremendo e com medo. E, nesse caso, escrevo na primeira pessoa sendo eu, um eu-empírico que usa esse espaço em branco para se organizar. Contar uma nova história ou uma velha história novamente, com novidade, é um nascimento. É bom inaugurar um papel totalmente em branco. Sou eu quem me narro, me escrevo, me inscrevo nessa história. E talvez os pesadelos não tenham sido exatamente assim e eu os esteja fantasiando. A fantasia da fantasia.

Todos eram aterrorizantes. No entanto, havia um mais cruel que todos. Recorrente. Eu ia por uma estrada escura, de terra batida, com uma chuva que não chegava a molhar o chão, mas deixava o ar embaçado. Essa estrada não tinha fim. Quilômetros e quilômetros de caminhar sem haver uma chegada. Era frio. Eu estava só. Queria chegar, queria voltar. Aonde? Pra onde? Pois é, eu nunca soube. Daí a angústia e um peso no peito sufocante que permanecia mesmo após horas de acordada. Em algumas noites esse longo trajeto era apressado por uma corrida, uma fuga desesperada, pois algo estava prestes a me pegar. Nunca tive coragem de olhar para trás e conferir o tamanho do monstro.

Essa noite, entretanto, foi diferente: eu tive um sonho bom. Não que eu não os tenha; eles são raros. Somente vez ou outra vêm alegrar meu sono. Mas essa noite... eu sonhei que eu dirigia: nem desgovernada por uma ladeira, nem fugindo de alguém, nem prestes a cair num precipício... eu dirigia um conversível (imaginem... eu que nem sei dirigir de verdade!) e estava de dia! Era um dia claro, com um sol tímido que colocava uma lente amarelada nos meus olhos. Assim como a outra, essa estrada era tortuosa, cheia de curvas e eu também não via seu fim. Porém isso não doía. Não lembro se havia um mar limitando-a a leste, mas a brisa estava lá, aumentando toda vez que pisava fundo no acelerador. Prazer da corrida. Cheiro de sal. Gosto de domingo. Eu apertava, com força e segurança ,o volante. A cada curva, uma sensação de avanço era sentida através do meu sorriso: alegria de crescer.

Éramos apenas eu, o carro e a certeza de que não havia perigo. Esse controle e essa liberdade, ninguém mos rouba mais.

4 comentários:

Daniel Caldeira disse...

professora, não consegui achar o link pro tal concurso... mande-me se puder. Obrigado!
Um abraço

Daniel Caldeira disse...

Você acha que vão me desclassificar se eu escrever "merda" no meu conto? Enfim, eu gostei, levo na sexta pra você ler!
Beijos fessora.

Stefan Rotenberg disse...

Eu acho sonhos uma boa medida. Medir o que? Não sei. Mas gosto dos que sonham. São bonitos os seus.

Usnave disse...

Antes um pesadelo, antes um sonho, do que o sonho de que não existe sonho. O sonho de que não existe sono. O sono que não se transforma em descanso.

Antes o alívio de uma noite de sono pesado, sem lembrança de sonho ou pesadelo, mas apenas a realidade do descanso.