Ao mesmo tempo
em que escrevia com letras desenhadas e em formatos diferentes o seu nome,
também repetia-o em voz alta. Laura era uma menina que não estava acostumada a
ser ela, sentia-se estrangeira em si mesma. Questionava-se continuamente o que
era ser Laura. Lau-ra. Porém, seu nome, assim pausado, soava-lhe como um escudo
romano; dava-lhe um lugar, uma função. Dizer o seu nome para si e para os outros a livrava do abismo da
inexistência, da indigência e do medo.
Então,
ser Laura, pelo que lhe sugeria o som de sua voz e a imagem que esse som criava
em sua imaginação, era, para ela, escudo. Mas a fragilidade dessa proteção feita de palavras ela só descobriria depois.
Ela a compreendeu a primeira vez quando se viu diante da morte. No quarto em que antes
estava seu pai. Entra e sai. Silêncio. Lágrimas. O que está havendo? Ela estava
invisível. O que houve? Novo silêncio. Pela porta entreaberta, viu-a: pesada,
imóvel, olhos fechados, sem ar, sem pulso, sem brilho, sem cor, sem força. A inexorável ausência tomando conta de todos os espaços.
Laura descobriu que Laura não era escudo. Uma dor lancinante, lança-dor, atingira-lhe
o peito em cheio. Ser Laura
não a defendeu de coisa alguma. Precisava descobrir que mais ela era.
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