segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Palavra-escudo


 - Laura. Lau-ra. L-a-u-r-a.

Ao mesmo tempo em que escrevia com letras desenhadas e em formatos diferentes o seu nome, também repetia-o em voz alta. Laura era uma menina que não estava acostumada a ser ela, sentia-se estrangeira em si mesma. Questionava-se continuamente o que era ser Laura. Lau-ra. Porém, seu nome, assim pausado, soava-lhe como um escudo romano; dava-lhe um lugar, uma função. Dizer o seu nome para si e para os outros a livrava do abismo da inexistência, da indigência e do medo.
            Então, ser Laura, pelo que lhe sugeria o som de sua voz e a imagem que esse som criava em sua imaginação, era, para ela, escudo. Mas a fragilidade dessa proteção feita de palavras ela só descobriria depois.
            Ela a compreendeu a primeira vez quando se viu diante da morte. No quarto em que antes estava seu pai. Entra e sai. Silêncio. Lágrimas. O que está havendo? Ela estava invisível. O que houve? Novo silêncio. Pela porta entreaberta, viu-a: pesada, imóvel, olhos fechados, sem ar, sem pulso, sem brilho, sem cor, sem força. A inexorável ausência tomando conta de todos os espaços. Laura descobriu que Laura não era escudo. Uma dor lancinante, lança-dor, atingira-lhe o peito em cheio. Ser Laura não a defendeu de coisa alguma. Precisava descobrir que mais ela era.

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