quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Ausência não é falta

insônia
peçonha
quem sonha?

Até hoje não sabia o que era querer dormir e não conseguir. Meu corpo está cansado, fisicamente, e minha mente não quer mais pensar. Quer parar. Mas não para. Fica aqui, funcionando, a todo vapor, racionalizando, raciocinando, pensando, enviando um impulso prum neurônio aqui, outro ali... Apesar disto, sou pouquíssimo produtiva à noite - a quem interessa se sou produtiva à noite? O que quero dizer, mente intrometida, é que se pelo menos fizesse algo que prestasse nestas longas horas acordadas (são as horas que estão acordadas, não eu) na calma da madrugada... porém, não. É só isso. O silêncio perturbador do meu cérebro trabalhando, conjecturando, costurando acontecimentos virtuais.


Sou tão repetitiva. Em tudo. No que falo. Na maneira como falo - impossível não reparar nos pontos finais. Só na repetição me encontro. Porque vou aos mesmos lugares é porque sei aonde vou.
Só sei o que digo, quando repito. Só sei o que digo, quando repito.
Dei tudo o que pude. Há o que não sei dizer. Se pudesse, rasgaria meu peito, pois há o que não sei dizer. Que bela amante das palavras! Não sabe dizer tanta coisa...
No dia, quando eu aprender a falar tudo, eu serei. Mas agora

É tarde
e a carne
arde.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Ah, o Tempo...

Esse velho cavaleiro que corre,
corre muito.

Amante de corações jovens e aflitos
quando é Futuro.

Algoz das almas saudadosas
se chamam-no Passado.

Se Presente for,
quem o sabe ou sente?
Não sabe ficar.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Ai que sono! Dorme, amor. Vou dormir. Antes vou terminar de assistir a "Laranja Mecânica". Sem som, ou melhor, bem baixinho. Ruim ver filme sem som, mesmo legendado, gosto de ouvir a voz dos atores, a música, a sonoplastia, os passos de suspense, os gritos... Amor, sabia que está tocando a Nona sinfonia (pelo menos foi o que o personagem disse)? Amor? Dormiu. Filme sem som. Cansei. Vou dormir. Fiquei pensando. Pensar é uma merda na hora de dormir. Não quero pensar, mas lembrei do trabalho. Senti medo. Muita responsabilidade. Será que vou dar conta? Tenho que dar. Ai que medo! Amor, tô tão ansiosa, não consigo relaxar... ainda tô de férias, mas já tenho trabalho pra fazer. Amor? Dormiu. Ruim ver filme sem som. Ruim sentir medo e não poder sentir medo. Tudo bem, não precisa sentir medo, você já tem tudo organizado: dia 18 entrega isso, dia 26 entrega aquilo, nesse meio tempo prepara os cronogramas, entra em contato com as editoras dos livros, divide as tarefas entre os professores, prepara os materias de sua responsabilidade, as ementas e está tudo certo! MAS eu ainda tô de férias... pois é, foi o que eu disse quando comecei a pensar. Então larga isso pra lá e volta a dormir! Tudo bem que eu nem comecei a dormir. Não consigo - estou com medo e ansiosa, o filme é maravilhoso, mas está sem som e ainda não tenho com quem dividir minhas angústias.


Acho que vou levantar e escrever um pouco.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

bodas

perdoe-me se não te contei
tive que sair
não pude me despedir

aquela frase mal acabada
era só pra dizer
que cada segundo da minha vida fazia sentido
porque um dia conheci você

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

o amor é outra liberdade

a liberdade de ficar.
de permanecer sem ser o mesmo.
de ir e voltar, ir e voltar e ainda ter caminhos a percorrer.

a liberdade de voar sozinho
sem estar só.
de andar junto, lado a lado.

a liberdade de sentir prazer.
de se emocionar.
de sorrir sem se sentir culpado.

a liberdade de ser inteiro e se dividir.
de dar vida a outra vida.
de abraçar o mundo sem se perder.

o amor é a liberdade de não sentir medo.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

nem isto nem aquilo

Falavam noutro dia de uma saudade do que poderia ter sido. Aquela viagem que não aconteceu; a voz que não saiu; a espera que se prolongou até a exaustão; o encontro adiado; o beijo interrompido; a loucura na qual não embarcamos; o medo que paralizou; a pessoa que se foi cedo demais ou aquela que nem chegamos a conhecer; a escolha pelo caminho da direita.

Talvez todos, absolutamente todos, já tenham experimentado a sensação do "e se eu tivesse escolhido o outro lado, como seria?", que para os mais frustrados converte-se em "como eu queria voltar no tempo para ir pelo outro caminho". Isso porque nós sempre queremos todas as experiências. Como seria bom conhecer o caminho da direita, da esquerda e todos os outros. As escolhas muitas vezes nos traem, pois elas supõem uma renúncia, sempre. Mas há outra verdade que me (nos?) salva: não estamos full time no controle, há também o que nos escapa, nos ultrapassa e excede.

Se tem saudade da pessoa que poderia ter sido, se a saudade daquele amor não declarado o consome, se seus olhos brilham toda vez que se imagina entrando naquele avião, se deseja de novo aquela oportunidade mal aproveitada, se tem saudade seja lá do que for (e do que não foi), agradeça, porque é essa falta, esse ainda querer mais, esse desconforto que nos mantém vivos.

Apesar do tom frívolo-auto-ajuda-a-vida-é-bela, não ignoro que há saudades irremediáveis. Eu mesma tenho as minhas.

Agora, lendo tudo o que acabei de escrever, não sei mais se trata-se de um texto sobre escolhas ou saudade. Comecei a escrever porque essa tal conversa que presenciei sobre "a saudade do que não foi" me fez pensar que somos responsáveis por ela quando optamos "pelo que foi" e não "pelo que não foi" - sob esse aspecto temos um texto sobre escolhas. Mas me lembrei da saudade que eu tenho por não ter visto meu pai nos últimos 14 aniversários. Saudade do que não foi e não se trata de uma escolha.

sábado, 18 de outubro de 2008


"sou um móblile solto num furacão

qualquer calmaria me dá solidão"