quinta-feira, 4 de março de 2010

Lucidez

Há um adiamento marcado para hoje.
O que vou deixar de fazer?

A cada palavra dita vou evitando dizer,
dissimulo a minha verdade
prorrogando o nó na garganta
(um dia ainda sufoco).

Meus passos são passos marcados num mesmo caminho
de repetição e melancolia.

Há dores reais, fingidas e criadas
que mutilam a vontade de continuar,
num eterno podar-se a si.

Ainda não é o nome do lugar des(confortável?) em que me instalei
para não sofrer.
Sinto o fantasma inexorável do Destino à espreita mas
existe um letreiro brilhando na minha cabeça [ainda não, ainda não, ainda não, ainda não]
Quando for inevitável - hoje é -, quem vai me proteger?

Eu adiei até a raiva
(só não adiei o amor, não sobreviveria sem o amor)
tenho adiado a lágrima - que devia ter se desprendido e me libertado...
as rupturas têm ficado para depois.
Tantos nãos negados...

Há um cansaço nisso tudo.
Porque
há algo que espera ser feito
há quem precise do que tenho a dizer
há os dias que não esperam
há mãos estendidas
há pernas já mais fortes pelos passos repetidos
há a alma, o aprendizado e o perdão
há, além do passado e do futuro, o presente

Não posso mais adiar viver.

3 comentários:

Anônimo disse...

Irremediavelmente vida, te invejo por conseguir ser capaz de emocionar o outro.

Anônimo disse...

Sei lá... um quê de chocante nisso tudo. Doeu um pouco, mas é real. É o que importa.

André Prado disse...

A vida é a entrega, as vezes insana. O amanhã é algo que pode escapar pelos dedos, por isso perdi o medo e por vezes a razão. As defesas as vezes sufocam... não adie viver, a dor faz parte e a raiva passa. Continuaremos aqui. 8) @)----