Há um adiamento marcado para hoje.
O que vou deixar de fazer?
A cada palavra dita vou evitando dizer,
dissimulo a minha verdade
prorrogando o nó na garganta
(um dia ainda sufoco).
Meus passos são passos marcados num mesmo caminho
de repetição e melancolia.
Há dores reais, fingidas e criadas
que mutilam a vontade de continuar,
num eterno podar-se a si.
Ainda não é o nome do lugar des(confortável?) em que me instalei
para não sofrer.
Sinto o fantasma inexorável do Destino à espreita mas
existe um letreiro brilhando na minha cabeça [ainda não, ainda não, ainda não, ainda não]
Quando for inevitável - hoje é -, quem vai me proteger?
Eu adiei até a raiva
(só não adiei o amor, não sobreviveria sem o amor)
tenho adiado a lágrima - que devia ter se desprendido e me libertado...
as rupturas têm ficado para depois.
Tantos nãos negados...
Há um cansaço nisso tudo.
Porque
há algo que espera ser feito
há quem precise do que tenho a dizer
há os dias que não esperam
há mãos estendidas
há pernas já mais fortes pelos passos repetidos
há a alma, o aprendizado e o perdão
há, além do passado e do futuro, o presente
Não posso mais adiar viver.
3 comentários:
Irremediavelmente vida, te invejo por conseguir ser capaz de emocionar o outro.
Sei lá... um quê de chocante nisso tudo. Doeu um pouco, mas é real. É o que importa.
A vida é a entrega, as vezes insana. O amanhã é algo que pode escapar pelos dedos, por isso perdi o medo e por vezes a razão. As defesas as vezes sufocam... não adie viver, a dor faz parte e a raiva passa. Continuaremos aqui. 8) @)----
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