quinta-feira, 1 de julho de 2010

Em si, consigo.

Laura já estava tão cansada de sua busca, que decidiu ater-se ao que sabia. Ela já não era mais uma criança; o véu da fantasia, que deturpa o resultado do olhar, já não estava mais em seus olhos.

Agora olhava o mundo quase como ele era. O quase era uma observação dela, que, um dia, contemplando a movimentação da rua pela janela do seu quarto - a mesma janela e a mesma rua de todos os dias - percebeu que o mundo não era, ele estava. Porque ontem ele estivera outro.

Foi um momento epifânico quando chegou à conclusão de que ela também, constituinte do mundo, só podia estar, embora fosse. Verdadeiramente descobrira muito sobre o que a rodeava e a habitava. Por isso não era mais criança.

Sua angústia se abrandara. Porque o mundo era um moinho, mas era bonito. Porque nem sempre havia brilho no sorriso, mas, se quisesse, poderia sorrir. Porque se olhou no espelho e viu que não era tão grande a ponto de ser superior, nem tão pequena que... Ah, não importa! Ela existia e isso era bom. E, se ninguém mais a visse - o que antes a apavorava - ela não morreria; não morreria mais por ninguém: só ela poderia morrer-se. E não queria mais morrer. Queria a brisa, o vendaval, a chuva e o sol. Queria os caminhos: percorrê-los, senti-los, sê-los.

A menina, ela, Laura, tornava-se mulher. Ela queria a vida, com tudo, apesar de.

6 comentários:

Agnes disse...

Gostei muito!

Yan Venturin disse...

Muito bom, também gostei muito. Parabéns Carol. Depois se der você poderia dar uma olhada no meu blog? Dar umas dicas quem sabe ? (Yan - Pensi freguesia)

Stefan Rotenberg disse...

Apesar de.

=)

(talvez nem a melhor referência. Mas uma de minhas favoritas, e ainda deixou pro final... Eu gostei.)

Daniel Caldeira disse...

Eu vou com o Stefan. Significou bastante.

Usnave disse...

Apesar de você
Amanhá há de ser
outro dia!!!

Tenho leves doses de rancor que me obrigam a pedir um pouco de apesares. Os emboras um dia me fizeram mal, mas já me fazem bem, porque é prazeroso escolher, um prazer masoquista de saber-se na margem do equívoco e do êxito. Sem a excitação da dúvida, nada, nada vale.

Win, DF e L.V disse...

Realmente muito bom. ^^ '