quinta-feira, 15 de outubro de 2009

pedagogia da verdade

Estou diante de trinta e dois espelhos (mas poderiam ser quinze, vinte e sete, quarenta e dois).

(Seria bom se o reflexo fosse sempre sincero.

Aguardo respostas honestas, perguntas curiosas, olhos atentos.

O que vamos descobrir hoje?
Que a língua como sistema de signos aleatórios, material e imaterial existe e não precisa ser explicada para atingir seu objetivo.
Que a linguagem nos torna (o quê?);
Que uma criança de seis anos cria e compreende metáforas sem saber seu nome;
Vamos constatar que a linguagem é a lente com que enxergamos o mundo à nossa volta; quanto maior o grau dessa lente mais apurado é o nosso olhar;

Vamos perceber que um poema de Vinícius faz sentido, comove, pinta o mundo de rosa, ou entristece e faz chorar o néscio, porque há uma sabedoria que habita o coração.

O que eu quero ensinar?
Que não há nada mais humano do que o aprendizado.)


Alguns, poucos em geral, refletem exatamente o que eu gostaria de enxergar: a imagem mais bonita, inteligente e delicada de mim.

Outros, que por sorte também são poucos, são indiferentes - espelhos na noite que nada mostram.

Uma maioria, confusa, pinta em sua superfície plana aquilo que somos: aldazes, invejosos, corajosos, indignados, felizes, arrependidos, doloridos, sinceros, cruéis, vis, ambiciosos, honestos, mal-educados, gentis, carinhosos, abusados, respeitosos (...), (...), (...)

Ver-se tão claramente, todos os dias, é pros fortes.

Tenho andado cansada ultimamente.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O príncipe do volvo prata

Edward Cullen não existe.

E não é porque ele é fruto da imaginação de alguém; não é porque habita o universo encantado das páginas dos livros adolescentes (livros que ainda precisam crescer para serem verdadeiramente grandes); não é porque ele é triplamente criado: pela autora, pelos olhos apaixonados de Bela e pelos olhos envolvidos das leitoras.

É porque sua perfeição é irreal, inumana e inverossímel até mesmo para um vampiro. Um vampiro cujo amor pela mulher é maior que o desejo pelo seu sangue; cuja paciência o faria esperar a eternidade; cuja entrega lhe tiraria a própria vida no momento em que a vida fosse arrancada de seu amor; cuja tensão erótica o leva até o beijo aterrador: o beijo do vampiro que não mata.

Ele não existe porque até o sentimento mais nobre é falível. Ele não existe porque ele não hesita. É preciso hesitar para existir, é preciso falhar, é preciso ser além do outro. Edward Cullen só existe no outro. No ideal de herói romântico do outro.

O mundo mudou (clichê?), A mulher se emancipou (clichê?), mas continua desejando e esperando um príncipe forte, corajoso, protetor, compreensivo, amoroso, amante caliente e lindo, cujo mundo se resume a viver pela mulher amada: você (esse, o maior dos clichês, tão velho, tão atual, tão adolescente - e tão verdadeiro).

Edward Cullen não existe.

Mas existe o amor, alguém que prepara o jantar e coloca uma flor no centro da mesa; existe quem te proteja, às vezes, porque nem sempre vai perceber sua fragilidade. Há quem te deseje loucamente, mesmo quando acorda de tpm e inchada; há quem te ouça - não no meio do jogo, claro - e compreenda a sua dor.

Não estamos sós em nossas imperfeições, graças a Deus.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A desejada das gentes

Não há dúvida de que a felicidade seja um conceito individual e cultural, estado estreitamente ligado aos valores e à visão de mundo do homem. Assim, como mulher ocidental e contemporânea, o tão almejado estado é tal qual sou: fragmentada, contraditória e perecível.

A fragmentação referida é a certeza de momentos - e não mais que isso - em que alcança-se o sublime, o perfeito encontro do desejo e sua realização. Acreditar em mais é viver frustrado. Felicidade é ver seu nome estampado num cartão de visitas, prova cabal de que existe no mundo real.

Conquistado seu espaço, já não se sabe mais que caminho seguir. A modernidade traz consigo um universo de possibilidades tão vasto que as escolhas alternam-se, contradizem-se e o que satisfaz o homem hoje, não o contentará amanhã. Felicidade é ser amante do branco, mas ter todas as cores dentro do armário.

Depois de tê-la, um dia - ou no segundo seguinte - a felicidade acaba. Da mesma forma que a vida humana só tem sentido porque é finda - a imortalidade alteraria todos os paradigmas que nos orientam -, aquela é querida porque fugaz. Sua perenidade arrancaria-lhe todo sabor de vitória. Felicidade é ver o sol se pôr, na praia, com seus amigos e amores, mesmo que o amanhã não chegue.

Aceitar a finitude e a instabilidade da felicidade já é estar mais próximo a ela. Assim, conhecer para realizar-se é ir pintando um quadro para o qual, no fim da vida, olharás em sua completude e dirás: fui feliz.

domingo, 24 de maio de 2009

eu confesso 2

Que a vida é um mar de rosas. que não há nada mais para se querer, somente o mar, que as energias renovapurificarevigoraalivia, e a ternura das rosas.


eu sei que as palavras são sempre poucas, gota a gota, homeopáticas. elas só saem assim, pela metade, inteiras no que dizem, mas insuficientes na forma. entende? não? que importa!

domingo, 17 de maio de 2009

eu confesso

UMa dor que nunca acaba. uma vontade de ter o mundo, de ser o mundo, de estar com o mundo. uma ânsia que não cabe em mim. essa dor que não finda. um desejo insaciável. e uma alegria tão breve.

e assim os dias se engendram: de rápidos respiros alegres e longos suspiros por aquilo que há-de-vir, se deus quiser.

domingo, 26 de abril de 2009

uma prece emprestada, mas minha.

"(...)alivia a minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que me lembre de que também não há explicação por que um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amém." - Clarice Lispector, Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres.

sexta-feira, 20 de março de 2009

(des)nudez

"Toda nudez será castigada"




porque





A verdade não é querida.