Ontem foi o chá de bebê do nosso filho. Foi uma festa de pura alegria e harmonia. Agradeci aos presentes por celebrarem conosco a vinda do Francisco. Agradeci enfaticamente à Vida.
À noite, despindo-me para colocar a roupa de dormir, com os pés inchados e os olhos abatidos pelas olheiras das noites acumuladamente mal dormidas, depois de um dia (uma semana) de intensa preparação para a festa, meu marido me olhou, beijou meu barrigão e disse que aquele fora o momento em que eu estivera mais linda desde que nos conhecemos.
Isso é amor.
"(...) as palavras não são mais concebidas ilusoriamente como simples instrumentos, são lançadas como projeções, explosões, vibrações, maquinarias, sabores: a escritura faz do saber uma festa" (Roland Barthes. Aula.)
domingo, 21 de julho de 2013
domingo, 19 de maio de 2013
Meu filho,
Hoje é Domingo, 19/05, Outono. O dia amanheceu claro, mas sem sol. Seu pai e eu fomos tomar café-da-manhã na rua: pão na chapa com café com leite - uma das bebidas preferidas da sua mãe.
Agora eu estou aqui pensando na vida e me deu uma vontade imensa de falar com você. Quem sabe um dia você vai ler isso e se sentir muito amado? Não sei...
Seu pai está na sala tocando cavaquinho, instrumento ainda novo para ele, que já arranha bem o violão, o tantan e o reco. Meu filho, seu pai adora música! É sambista! É tão feliz! Seu pai, além disso, é muito ligado às coisas do alto; e um dia você terá muito respeito por isso também e vai oferecer um café preto ao Tempo.
Ele com sua música e sua mãe aqui com as palavras, tentando organizar o mundo dela e preparar o seu. O quanto eu vou poder fazer, não sei. Vamos aprender juntos, nós três.
Aliás, lembrei de dizer uma coisa, meu filho: a vida é projeto de longo prazo; fique tranquilo.
Hoje é Domingo, 19/05, Outono. O dia amanheceu claro, mas sem sol. Seu pai e eu fomos tomar café-da-manhã na rua: pão na chapa com café com leite - uma das bebidas preferidas da sua mãe.
Agora eu estou aqui pensando na vida e me deu uma vontade imensa de falar com você. Quem sabe um dia você vai ler isso e se sentir muito amado? Não sei...
Seu pai está na sala tocando cavaquinho, instrumento ainda novo para ele, que já arranha bem o violão, o tantan e o reco. Meu filho, seu pai adora música! É sambista! É tão feliz! Seu pai, além disso, é muito ligado às coisas do alto; e um dia você terá muito respeito por isso também e vai oferecer um café preto ao Tempo.
Ele com sua música e sua mãe aqui com as palavras, tentando organizar o mundo dela e preparar o seu. O quanto eu vou poder fazer, não sei. Vamos aprender juntos, nós três.
Aliás, lembrei de dizer uma coisa, meu filho: a vida é projeto de longo prazo; fique tranquilo.
quarta-feira, 1 de maio de 2013
Eu tenho prazos na vida. E todos eles se referem ao trabalho. Só o trabalho me dá prazos. E costumo descumpri-los todos. Talvez eu precise abandonar essa parte do meu trabalho porque, para mim, os prazos são bobos, pequenos, irrelevantes.
Há mais que os prazos: há os amigos que sofrem e precisam de beijos, que não curam, mas fortalecem. Há os amigos doentes para os quais cada minuto da minha vida doada é ouro. Há os amigos que precisam começar a escrever a monografia e para os quais a página em branco é um monstro assustador e contam comigo para saber por onde começar.
Há os livros. Tantos. Ainda me resta ler tantos. Há esse vazio a ser preenchido por palavras. E diante do deslumbramento causado por quem consegue dar forma e sentido ao inominável, a Deus, àquilo que existe simplesmente, como cumprir prazos?!
Há a música! Há os meus passos tortos no chão da sala como se bailarina fosse. Há o tempo que passa em meu ócio. Há o silêncio das minhas construções e devaneios. Há as minhas lembranças. Há o som do trem de Paris a Versailles e a paisagem pela janela e aquele sol claro a me lembrar que a vida é boa.
E há Francisco e há o Lucas. E sobre eles basta dizer que minha casa está cheia: cheia de um não sei quê capaz de preencher cada segundo de uma vida tão intensa que basta.
O único prazo inquestionável é a morte. Até lá, vou vivendo e enganando todos os outros.
Há mais que os prazos: há os amigos que sofrem e precisam de beijos, que não curam, mas fortalecem. Há os amigos doentes para os quais cada minuto da minha vida doada é ouro. Há os amigos que precisam começar a escrever a monografia e para os quais a página em branco é um monstro assustador e contam comigo para saber por onde começar.
Há os livros. Tantos. Ainda me resta ler tantos. Há esse vazio a ser preenchido por palavras. E diante do deslumbramento causado por quem consegue dar forma e sentido ao inominável, a Deus, àquilo que existe simplesmente, como cumprir prazos?!
Há a música! Há os meus passos tortos no chão da sala como se bailarina fosse. Há o tempo que passa em meu ócio. Há o silêncio das minhas construções e devaneios. Há as minhas lembranças. Há o som do trem de Paris a Versailles e a paisagem pela janela e aquele sol claro a me lembrar que a vida é boa.
E há Francisco e há o Lucas. E sobre eles basta dizer que minha casa está cheia: cheia de um não sei quê capaz de preencher cada segundo de uma vida tão intensa que basta.
O único prazo inquestionável é a morte. Até lá, vou vivendo e enganando todos os outros.
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
2012
2012 foi um ano bom.
Sempre fui uma criança curiosa. E tímida. Isso quer dizer que muitas das minhas dúvidas jamais foram pronunciadas. Nunca tive coragem de perguntar, quando criança, porque a vida era dividida em anos. E isso era algo que realmente me intrigava: quem determinou isso? Quem disse que ali acabava um e começava outro? Quando cresci, mesmo sem perguntar, acho que descobri a resposta. Para além da questão física e geográfica, de movimentação do globo, das estações e do dia e da noite, há algo que me responde melhor: a vida é dividida em anos para dar ao homem a chance de recomeçar.
É preciso que algo termine e comece e, muitas vezes, apenas o dia terminar e começar é pouco. Um dia é uma unidade pequena demais para medir as grandes coisas da vida. Eu sei, a vida não precisa ser medida. Porém, nós, que aqui estamos, necessitamos da ideia, ainda que irreal(?), de que estamos começando de novo.
Eu já nasci tantas vezes. Não renasço a cada ano novo. Renasço das minhas palavras. Mas percebo, com os anos, os meus nascimentos, as minhas descobertas. Por isso digo que 2012 foi um ano para ser comemorado.
Nesse ano eu escolhi o luxo do tempo. Trabalhei menos e tive mais tempo. Com mais tempo, pensei mais, dormi mais, fiz mais amor, estudei mais. Tive mais tempo.
Nesse ano eu aprendi como nunca na vida. O aprendizado é um procedimento, uma alternativa, uma postura ética diante da vida. É claro, portanto, que venho aprendendo faz tempo. No entanto, não me lembro de outro momento em que essa maravilha humana, que é a capacidade de assimilar e num segundo já não ser quem se era, tenha estado tão presente em meus fazeres diários. Aprendi o caminho que me leva até mim. Meus Deus! Aprendi o meu lugar... Encontrei um cantinho de apaziguamento. Aprendi minhas miudezas e meus deslumbramentos; encontrei descaminhos e não os chamei fatalidades, porque aprendi que nada - nem mesmo a história - é para sempre. Aprendi a radicalidade que é ser eu.
Nesse ano eu descobri coisas incríveis sobre minha vida. Descobri que tenho (e não que tive) pai e mãe. Um deles não está aqui, mas os dois existem em sua função protetora, formadora e hereditária. Descobri, então, que sou filha e que vivo a minha história, que a construo diariamente com as ferramentas que possuo, que não são nem melhores nem piores, são as possíveis. Descobri que olhar no espelho é ver mais de um.
Nesse ano fiz escolhas. Posicionei-me. Falei e ouvi. Permiti-me errar e me perdoei. Estou mais perto daquilo em que acredito e abri-me a afetos outros sem medo de ser afetada. Fiz amigos verdadeiros. Renovei meu amor. Viajei para lugares de sonho. Sonhei com lugares novos. Finalmente fizeram sentido para mim as palavras de Vinícius: é melhor ser alegre que ser triste.
Gratidão é um bom sentimento para esse ano. E que comece outra vez...
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Aprender a falar foi o que primeiro me salvou.
"Poesia, minha tia, ilumine as certezas dos homens e os tons de minhas palavras. É que arrisco a prosa mesmo com balas atravessando os fonemas. É o verbo, aquele que é maior que seu tamanho, que diz, faz e acontece. Aqui ele cambaleia baleado. Dito por bocas sem dentes nos conchavos dos becos, nas decisões de morte. A areia move-se nos fundos dos mares. A ausência de sol escurece mesmo as matas. O líquido-morango do sorvete melas as mãos. A palavra nasce no pensamento, desprende-se dos lábios adquirindo alma nos ouvidos, e às vezes essa magia sonora não salta à boca porque é engolida a seco. Massacrada no estômago com arroz e feijão a quase-palavra é defecada ao invés de falada.
Falha a fala. Fala a bala."
LINS, Paulo. Cidade de Deus. São Paulo: Cia das Letras, 2002, 2ª ed, p. 21.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Palavra-escudo
Ao mesmo tempo
em que escrevia com letras desenhadas e em formatos diferentes o seu nome,
também repetia-o em voz alta. Laura era uma menina que não estava acostumada a
ser ela, sentia-se estrangeira em si mesma. Questionava-se continuamente o que
era ser Laura. Lau-ra. Porém, seu nome, assim pausado, soava-lhe como um escudo
romano; dava-lhe um lugar, uma função. Dizer o seu nome para si e para os outros a livrava do abismo da
inexistência, da indigência e do medo.
Então,
ser Laura, pelo que lhe sugeria o som de sua voz e a imagem que esse som criava
em sua imaginação, era, para ela, escudo. Mas a fragilidade dessa proteção feita de palavras ela só descobriria depois.
Ela a compreendeu a primeira vez quando se viu diante da morte. No quarto em que antes
estava seu pai. Entra e sai. Silêncio. Lágrimas. O que está havendo? Ela estava
invisível. O que houve? Novo silêncio. Pela porta entreaberta, viu-a: pesada,
imóvel, olhos fechados, sem ar, sem pulso, sem brilho, sem cor, sem força. A inexorável ausência tomando conta de todos os espaços.
Laura descobriu que Laura não era escudo. Uma dor lancinante, lança-dor, atingira-lhe
o peito em cheio. Ser Laura
não a defendeu de coisa alguma. Precisava descobrir que mais ela era.
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Sobre o desejo
Era um beijo avassalador. Era um casal. Lascívia e paixão. Em público. Como ousavam? Caminhavam suas mãos pelos corpos ora próximos ora mais afastados, só para serem trazidos para perto por uma atitude grosseiramente carinhosa. Libidinosamente ele subia seus carinhos à nuca e prendia os cabelos dela entre os dedos, de modo a forçá-la a um movimento de claro prazer. As bocas se afastavam e eles se cheiravam, se olhavam, se mediam. Diziam qualquer coisa com os lábios colados à pele: um corpo falando com outro.
Olhares curiosos, envergonhados, pudicos, excitados, empáticos, invejosos. Eles eram criteriosamente observados, avaliados, censurados, desejados. Mas pareciam não se incomodar. De pé, no meio de uma discreta praça - dispensavam a proteção dos muros, portões, cantos e sombras. Quando o desejo fala, o mundo se cala. Ficaram ali por uns quarenta minutos. Por quarenta minutos só eles existiram. Apenas a vontade exercia sobre eles um poder irrefreável de ter o outro, engolir o outro, preencher toda falta eroticamente inesgotável.
Foi bonito de ver. Porém, de algum modo, senti-me eu observada por eles. O meu interesse me denunciou de tal modo que fiquei exposta e explícita. Por não desviar o olhar - bebia meu suco calmamente - houve átimos de segundo em que, verdade ou não, nossos olhares se cruzaram. Estive tão ali quanto eles. Fantasiei palavras sussurradas e repeti mentalmente aquela dança. Foi tão bonito!
Levantei-me e quis passar ao lado, desvendá-los, aproximar-me dessa coragem. Mas eles então se desataram. Para onde iriam? Para onde se vai depois disso? Que fazer com o que sobra? Sobra alguma coisa? Sobrei eu: e então soube de mim.
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